Dizem que a carta ao rei de Pero Vaz de Caminha, primeiro documento oficial brasileiro, incluiu depois da descrição das maravilhas do novo mundo um pedido de emprego para parentes. Passados 510 anos, o aniversário de Brasília é celebrado na semana de soltura do primeiro governador preso por inéditos vídeos de corrupção e pelo adiamento do projeto Ficha Limpa pelos “representantes do povo” no Congresso.
Muitos especialistas estimam em 30% dos valores de obras e serviços públicos desviados pelo grande assalto nacional ao dinheiro dos cidadãos. Obviamente é impossível saber o valor exato. Mas quem acompanha o noticiário ao longo da vida sabe que são muitas portas abertas.
No executivo a mais simples, nos valores menores, é o convite. Criado para garantir algum controle, permite que o responsável de governo diga para sua empresa preferida arrumar outras duas que forneçam orçamentos um pouco maiores para fechar o negócio. Algo parecido ocorre nos valores maiores, onde empresas pouco éticas, digamos, podem organizar um cartel para garantir o preço menor de cada uma em áreas geográficas escolhidas.
Também no legislativo já ocorreram fatos didáticos. Como visto na tevê, chega a ser usado em muitos casos o dinheiro vivo escondido em meias, em cuecas e em outras peças inimagináveis do vestuário. Mas também existiram casos de doação de uma casa ou apartamento na aprovação de projetos polêmicos em muitos lugares do país.
Muitas vezes a transação usa um “laranja”, um terceiro que às vezes nem sabe exatamente o que está acontecendo. Mas essa é uma técnica muito comum, inclusive em empresas e igrejas que querem sonegar impostos associando essas pessoas a empresas “off shore”, sediadas em paraísos fiscais no exterior.
Ah, e também em casos de grandes nomes do crime organizado que oferecem dinheiro e cuidados familiares aos “laranjas” que assumem suas penas de prisão. Uma investigação falsa, entretanto, nos leva ao ambiente ficcional de séries como Força Tarefa.
E ao lembrarmos de notícias sobre a venda de sentenças judiciais, por exemplo, veremos que nem mesmo o judiciário está livre dessa praga.
Também foram divulgadas pesquisas recentes onde o poder (político ou econômico) relaxa os valores das pessoas para consigo mesmas. E outras, sobre o custo eleitoral deste ano atingir recordes, onde os R$ 280 milhões do fundo partidário público serem apenas 10% do total.
Tudo isso para concluir que o financiamento paralelo das campanhas deveria ser um alerta sobre os compromissos secretos dos candidatos. E que, sem pessoas dispostas a mudar tudo isso no Congresso, não vai adiantar reclamar da justiça que cumpre as leis porque são feitas por esses # ou barradas na tentativa de milhões de cidadãos tentarem fazer isso.